O
VOYAGE 1985 S entrou na minha vida meio que sem querer, eu estava procurando um
Passat Village, igual ao que foi do meu pai, queria reformar e dar a ele de
presente, aquele com 4 faróis quadrados na dianteira, acredito que esse Passat
era ano 1983, não tenho certeza, mas o carro deixou saudade. A verdade é
que o Passat do meu pai sempre entrava como "emergência" quando meu
Escort XR3 dava problema, e não eram raras as vezes... como assim?
O
carro do meu pai só tinha um problema, combustível, nunca tinha, toda hora o
carro "estragava", ficava em algum lugar na rua por pane seca, o
velho achava que combustível a gente só coloca uma vez na vida. Pois é... mas
eu usava o carro dele quando o meu quebrava, e o meu XR3 quebrava toda hora,
então o Passatão fez história com a gente.
Um dia conversando com um colega, esse me
indicou esse Voyage atual pensando ser um Passat, ele confundiu os carros, tudo
bem, na maior boa vontade fui lá ver o carro, estava abandonado, os
bancos um lixo, mofo, torto, caixa de ar com um rombo... mas eu gostei, achei
que tinha potencial, o preço estava acessível. Levando em consideração que não
era um Passat, era um Voyage e eu gastaria para "levantá-lo"
novamente, decidi arriscar e comprei, achei simpática aquela cor bege Ipanema.
Em casa a desculpa era comprar um carro para ir na roça, mas queria é fazer um
agrado pro velho, e fui na fé... de primeira, com poucos dias o motor ferveu,
claro! Aquele sistema de arrefecimento original “é” péssimo, por isso que
projeto do Fusca voava alto, os carros com arrefecimento a água tinham um
projeto péssimo, um erro dantesco no sistema do reservatório de expansão, em
que a água deixava o radiador quando a pressão ficava acima de 1.5 bar, mas
essa mesma água jamais retornava ao radiador, além da ferrugem impregnada no
sistema e por dentro das mangueiras. Naquela época ainda não existia a cultura
do aditivo no radiador, não tínhamos instrução a respeito das coisas, hoje eu
sei como é, e eu sabia que esse carro deixaria na mão, e acertei, era previsível
que ia dar merda, mas estava decidido a ajeitar o carango e comecei por
fazer o motor. Retificou tudo, a parte de baixo estava na 1º retífica, a parte
de cima, nas últimas... sinal da falência do projeto de arrefecimento desse
carro, que comentei acima.
Na parte do cabeçote eu abri 3x, nenhum
mecânico submeteu o cabeçote a teste de trinca, me deu muito prejuízo não
observar isso. Não busquei mecânico por conta de preço, só para ressaltar.
Depois de muito quebrar a cabeça, decidi substituir o cabeçote, consegui um
standard, e só depois que substituí o cabeçote que normalizou o funcionamento,
está perfeito (atualizado em 10/03/2023).
Troquei
também a transmissão, agora com 5 marchas. Coloquei uma caixa da Parati 2003,
também coloquei barra anti-torção inferior com suporte para a caixa de marcha.
Coloquei a barra inferior porque ela possui suporte para a caixa com 5 marchas,
originalmente a estrutura desse carro é para 4 marchas, não tem o suporte para
a caixa com 5 marchas, a transmissão de 4 marchas é perceptivelmente menor,
também aproveitei e troquei os bancos, os originais estavam péssimos, mofados,
estava feia a coisa, grudento, joguei fora e coloquei os Recaro da Parati Track
Field. Não está no couro animal, uso o sintético, mas foi o que o dinheiro deu.
As rodas taludas que estavam nele eu vendi, eram MOMO tala 7, coloquei as BBS
14 originais e 4 pneus 185/60-14 novos, a pintura do carro foi feita, em alguns
pontos ficou uma bosta, vou ter que mexer outra vez, não agora, mas essa parte não
teve fim ainda,...
Ah, nunca coloquei esse carro na roça,
mesmo agora que ele está pronto e estou usufruindo. Fato é que venho fazendo
inúmeros testes nesse carro todos os dias, e a impressão que tenho, real mesmo,
que fica de fato é que eu errei quando escolhi a Parati, porque algumas coisas
não dão certo com a Parati, infelizmente, e tudo dá certo nesse Voyage, TUDO!
O carburador é o mini progressivo, está em
estado de zero, e foi passado o segundo estágio para mecânico, muito melhor que
a vácuo que quase me fez bater algumas vezes. Aquela bosta de vácuo agarra o
segundo estágio aberto, esse motor cresce velocidade muito rápido e o carro é
muito leve, receita pra dar merda... mas, a alteração de vácuo para mecânico
ficou perfeita, o funcionamento e manejo ficou 100% na mão, total confiança
Na
primeira vez que abri motor foi feito tudo, pistões trocados, bielas
embuchadas, bloco retificado, inclusive o cabeçote foi feito (fui enganado 2x
naquela retífica) As válvulas novas, substituídas e o cabeçote antigo estava
taxado. O cabeçote é original do motor md270, cabeçote com entrada de água na
frente
O pulo do gato desse cabeçote para quem está lendo essa postagem meio
que anacrônica pelo no do carro está no tamanho dessas válvulas.
Como assim?
Se você medir as válvulas de um cabeçote
AP pastilhado em comparação com o cabeçote do md270, vai perceber que as
válvulas do AP são 6 mm maiores que as válvulas do md270, o que influencia
diretamente no consumo, e acredite, esse conjunto md270 te entrega no álcool
mais de 8 km por litro dentro da cidade, e se morar em local plano, te entrega
até mais de 10 km litro fácil, e na estrada a média gira em torno de 13,5/14
km/litro, estamos falando em álcool, em um veículo com quase 40 anos, não é um
veículo a gasolina, eu nem saberia dizer a média na gasolina. Por outro lado,
se escolher colocar um cabeçote AP no seu md270, vai funcionar, mas se prepara
para cair o consumo para 3 km/litro, experiência empírica de amigos que fizeram
isso e se deram mal. Não faça isso!
Jamais
coloque cabeçote AP no motor MD270.
É comum ver essa adaptação, MD embaixo e
AP em cima, e isso é culpa do projeto porco que era utilizado nesses carros na
década de 1980. O sistema de arrefecimento do Passat, Voyage, Parati anteriores
a 1988 era péssimo, comentei acima, o que também seria facilmente corrigido passando
todo o sistema de mangueiras e reservatório para o utilizado no modelo AP,
exatamente como eu fiz, e depois de feita a modificação, você pode até anular
esse reservatório de expansão original, ele não vai ter utilidade.
Para quem (como eu) nasceu no século
passado e vivenciou o desenvolvimento do MD270 e do AP, esse MD270 é o motor
"bielinha", que significa biela menor e girabrequim maior, e
girabrequim maior significa mais torque em baixa rotação (mais economia na cidade).
Ficaria a zona de torque desse conjunto em 2600 rpm. Agora entende o comercial
de TV chamando o motor desses carros de "motor torque"?
Trafegar na cidade é muito confortável, e com a 5º marcha ficou suave na
estrada, pois a 100/105 o carro não vibra. Dá pra fazer seu rolé na boa.
Me arrisco dizer que teríamos esses carros
rodando novos até hoje se em outras circunstâncias tivessem utilizado o modelo
de arrefecimento do AP nesses conjuntos, e digo isso porque no caso desse
Voyage, a parte de baixo era standart, enquanto o cabeçote estava nas
últimas...
Você não tem ideia o que é ter um motor
torcudo em baixa rotação numa cidade lotada de morro como é Juiz de Fora, e
tudo isso significa essa economia que comentei, e muito conforto ao dirigir,
porque o motor dá conta da demanda sem ficar trocando de marcha. Na estrada a
100 km/h é um veículo seguro, estável, não aborrece. A caixa (transmissão)
ficou uma delícia na estrada. Dentro da zona de torque ele trafega a 100 km/h,
quer coisa melhor do que isso?
Sobe e desce as serras de 5º marcha,
não pede 4º, cai o ritmo só um pouquinho, não abro o segundo estágio atoa,
deixo desenvolver só no primeiro e o segundo em retomadas urgentes.
Um detalhe interessante sobre esse Voyage
1985 s é que com certeza ele tem menos lata que os quadrados mais novos, creio
que de 1987 em diante. É muito comum a gente ver esses carros com o túnel
trincado ou rachado, é um kinder ovo a lata desse veículo, o mesmo se repete
nos veículos da Autolatina, uma presepada que por um período uniu a WV à
Ford... Ser mais leve ajuda na economia, mas não ajuda na resistência
estrutural. A Parati que possuo é 1989 modelo cl, é perceptivelmente mais
pesada, mais rígida, tem mais lata, o chassi é sensivelmente mais duro, em
comparação lembra um pouco a dureza do chassi do Santana, salvo as devidas
proporções, mas é fato que a Parati também bebe mais por ser mais pesada.
Quisera eu ter conhecido o Voyage antes, teria ficado quietinho com ele e nunca
teria problema com economia. Eu tive vários Ford Escort's, L, LX, XR3, sofria
com consumo elevado (4,5 km/l), manutenção alta, cara, componentes absurdamente
caros - a suspensão do Escort é um horror, e quando cheguei na Parati, ela
atendia uma demanda específica do meu comércio, ao passo que a manutenção
sempre contou com peças de reposição numa faixa de preço mais acessível. Até brinco
de por que não ter conhecido o Voyage antes, mas na época eu precisava de uma
perua, então a Parati entra com gosto na família, mas confesso, sempre fui
frustrado com a questão do consumo com a Parati, que mesmo com tudo em dia,
tudo padrão, ela nunca deu 7 na estrada, sempre consumiu muito na cidade, cerca
de 4,5 km/l no álcool, igual ao Escort, e também aborrecia demais no inverno.
Depois de alguns anos passando raiva, fiz o motor e passei para gasolina, e foi
a melhor coisa que fiz, porque no álcool aquele motor AP era uma verdadeira
merda. Quando digo merda, é porque moro numa cidade que você acaba rodando
pouco, e o pouco que você roda não é suficiente para esquentar o veículo e
aproveitar ele quente, então você nunca aproveita o máximo do conjunto, mas na
gasolina ficou um espetáculo. Pega de primeira, funciona de primeira, ali na
esquina já está na temperatura certa de trabalho e gera quase nada de borra,
além disso, passados uns dois anos qe fiz o motor, injetei a Parati com TUDO
original Mi, de uma Parati doadora do ano de 1997, o funcionamento ficou
espetacular, é outro carro, 10 cv a mais só por ter colocado injeção
(dinamômetro), mas não deu a economia que eu esperava, deu exatamente a mesma
média que dava com o carburador na gasolina, salvo o funcionamento, que dá de
1000 a 0.
Voltando ao Voyage:
Média com as rodas que tirei da Parati
195/50-15
cidade 5,8
estrada 9,8
Média com as rodas originais WV BBS
185/65-14
cidade 8,12
estrada 12
Média com as rodas originais de ferro
175/70-13
Fazendo a média ainda (13/04/2021)
Cidade 9 - estrada 14
Hoje: Uso BBS original do GTi, pneus
185/60-14 novos.
Sincera opinião:
O motor AP roda muito liso, não tenho o
que reclamar, é top na estrada, reclamo do consumo, e o 1.6 é muito travado, já
o motor MD270 1.6 é muito bom de rodar no urbano, rende mais que o AP, mais
torque, principalmente se colocar uns 2 graus adiantado na polia ajustável no
comando de válvulas, fica realmente diferente, nem parece que estamos falando
de motores tão semelhantes. Experimente 2 graus em qualquer dos dois, no comando,
depois me conta, fica um catiço (ambos). O md270, antecessor do AP anda muito
bem no perímetro urbano, é infinitamente melhor do que o AP na cidade. Não sei,
mas acho que os taxistas da época deviam deitar o cabelo. Inclusive, teve
versão quatro portas, nos mais antigos e nos mais novos até 1994, e me recordo
como se fosse hoje porque cheguei a comprar um. A Volkswagen estava pensando
justamente em atender essa demanda dos taxistas, mas não pensou que, ao fazer
um carro mais leve, este não apresentariam degradação precoce da suspensão; parece
piada mas é comum ver esses veículos trocando amortecedor pela primeira vez
agora, em pleno 2021... mas com quase 40 anos de uso? Pois é, troquei os
amortecedores do Voyage por prevenção, porque estavam (os dianteiros) ótimos,
os traseiros estavam travados por falta de uso. Esse carro ficou 18 anos
parado... acredite, isso não é bom, porque quando você coloca para funcionar
"mesmo", fode tudo quanto é borracha e mangueira, e correia dentada
não é diferente.
Resumindo a história do Voyage gl 1.8 4
portas 1994 que comprei, foi na cidade de Curvelo MG, numa concessionária VW
local, que anunciou a última unidade da loja, se não me engano, por R$8.900
reais, que na época era o preço de um carro zero, e estava barato, porque na
minha cidade natal o mesmo carro estava 11 mil, levando em consideração que
hoje o dinheiro vale 6x menos.
Comprei,
era lindo!
Eu trabalhava num GM Vectra, era do ano,
eu atendia a região do Norte de Minas, daí vi esse carro num anúncio na frente
da concessionária, estava lá o Voyajão naquelas estruturas que deixam o carro
mais alto que o chão, estava lindo, com uma placa na frente da concessionária
escrito: "últimas unidades", e decidido, no outro dia fui buscar esse
carro. Estreei ele no serviço (representação), naquele dia, fui de ônibus de
Juiz de Fora até lá para voltar trabalhando nele, mas a alegria durou pouco,
depois de meio dia de trabalho, chegando em casa o motor simplesmente travou,
foi um defeito no cabeçote, estranho que estava tudo aparentemente certo,
tinha óleo, bomba funcionando, tudo perfeito... na manhã do dia seguinte
coloquei o carro no guincho e levei para a concessionária da cidade que
comprei, e que me atendeu de pronto substituindo o motor na minha frente. O
carro nem tinha placa. Fui de guincho de minha cidade até Curvelo e voltei
dirigindo, com o carro funcionando normalmente, mas quando cheguei em casa,
tive uma proposta de 12 mil no carro na porta de casa, e deixei ir embora, pois
a experiência inicial com ele foi péssima, por isso nunca mais olhei com bons
olhos novamente o Voyage. Outra coisa é que tive um razoável lucro, tendo em
vista que de 9 para 12 a diferença é 3, mas se colocar na ponta do lápis hoje,
dá quase 18 mil. De certa forma, foi lucro.
Confesso
que comprei esse antigo e estou com ele hoje, porque os mais antigos não
parecem em nada com os mais novos, de 88 em diante, e confesso que só fui
lembrar desse caso do meu Voyage 1994, escrevendo esse caso, e porque lembrei
de Voyage 4 portas 1994... Voyage até 1985 é um carro, de 1988 em diante é
outro, completamente diferente... desse ponto até conhecer a Parati 89 fiquei
na Ford... sofrência, mas isso é outra história.
Posta sua experiência ai, divide com a
gente.
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